quarta-feira, 9 de maio de 2012

NO UMBRAL PELO QUAL SE ADENTRA NA FLORESTA


Estes passos vão se enrolando como uma fita azul bem escura enterrando-se nos estofos úmidos das folhas
virando mofos, soltando sementes, reproduzindo-se num silêncio molhado e esgarçado, resinando num muco acre, condenando.

De dentro da floresta, faz companhia a uns insetos alados, investigativos, a pele que se torna membrana mole, e vai cedendo a uns focinhos gulosos que sugam mas não matam sua próprio essência, pois se sabe que nada morre efetivamente por estas bandas.

Estas canelas que derretem nos mangues vão se rebaixando, mas com dignidade, aceitando a condição úmida de que o adubo é também um tipo de sêmem, e as visões mais fatais da floresta têm de ser, por piedade, um tipo de cura.

Então, diante deste imiscuir-se enredado neste destino vegetal, cada uma destas árvores se revela como mãos clementes, enterradas e invocando os céus, de gigantes latentes, há tanto tempo enjaulados, que testemunham, sem emitir julgamento, a liturgia que celebra o encalacrar-se deste recém-nascido ser eterno.