quinta-feira, 5 de julho de 2007

Quando éramos crianças, eu e meus irmãos costumávamos andar a cavalo na antiga fazendo do meu avô. Sempre tive uma fascínio daqueles de criança por animais. Minha única idéia para um filme seria uma montagem, nas margens da poesia, da vida, hmm... sincera dos animais. Lembro-me de passear pela fazenda e gastar meu tempo observando galinhas, porcos, minhocas e vacas. A diversão "oficial" da fazenda, que era andar a cavalo, ficava mais com meus irmãos. Marcos em especial, que sempre cultivou um espírito osbtinado e aventureiro. Cavalos combinam com ele. É um sujeito vigoroso. Já eu acho que combino mais com porcos e galinhas, animais de uma vida meio abestalhada, que vivem meio que sem saber o que se passa. Esse poema, de 2007, foi escrito para esse meu irmão esperto e querido.

Os Cavalos

Cavalos!
Cavalos com ferradura de atrito poroso.
Cavalos com emblemas para selar o céu.
Cavalos como motivo de florescimento corporal.
Cavalos propulsionam as terras de defesa dos garotos galácticos.
Cavalos de um dia chegando cometas aos estábulos da criação.
Cavalos que monitoram – ascendem aos altos picos da realização.
Cavalos que transitam, indígenas, pelos pastos da pulsão.
Cavalos de capim verde que engrenam, clorofílicos.
Cavalos de êxtase, motores e trações.
Cavalos chicoteiam, superaquecem os fluxos daninhos do desespero [rascante.
Cavalos de luxúria; cavalos diabólicos.
Cavalos pangarés, para estrelas bebês.
Cavalos exatos, design de musculatura e ossos de alumínio.
Cavalos de desesperança; fagulhas de apocalipse.
Cavalos renascentistas, romances de um duradouro efeito de insurreição.
Cavalos cavalgam enquanto homens pululam em direção ao oblíquo da
[dor e dos suspiros abafados.
Cavalos relincham subservientes à temperança altiva da garotada.
Cavalos desmaiados, exauridos pelos que têm algum pudor.
Cavalos dormindo, bafejando um sonho de passear pelo arco-íris.
Cavalos ordinários, vagando maltrapilhos, inconsúteis, incorrigíveis.
Cavalos-fantasma.
Cavalos-Vontade.
Cavalos-História.
Cavalos-dínamo.
Cavalos-fome.
Cavalos-fogo.
Cavalos-fato.
Cavalos em disparada – equação do movimento.
Cavalos alados – estes já não precisam de asas.
Cavalos derretem, abstraem-se, enganados num futurismo ancestral.
Cavalos dados, de dentes quaternários.
Cavalos chegam à velocidade da luz, com olhos priscos.
Cavalos piscam, e recebem de volta o laço digno de doutrinas dêiticas.
Cavalos não iguais aos de Gulliver, já que
Cavalos são selas e não se concebem como celas.
Cavalos ao sol poente, buscando seu alimento, o elétron.
Cavalos cavados, enterrados como avestruzes.
Cavalos na moita, o menino descansa.
Cavalos coalhados, soníferos, despilhados.
Cavalos somem, no zero absoluto.
Cavalos são homens, no raciocínio astuto.
Cavalos cansados.
Cavalos calados.

3 comentários:

John Pothead disse...

gostei muito. ainda mais com as lembranças familiares. como andei naqueles pangarés

Anônimo disse...

Tango barroco pra patrick

patrick tem fé
na ciência
no cinema

tudo vai melhorar
sob o olhar generoso
da razão da beleza

patrick na ciência
no não se deixar
passar pra trás
quer que as coisas
se mostrem
e o discurso flua

patrick na fé
é paixão sentimento
e pelo menos uma vez
por ano enlouquece

patrick no cinema
plano geral e microscópico
luz e contrastes
silêncio e movimento
ao mesmo tempo

Ciro disse...

Muito bom! Vamos fazer uma série para todos os personagens do desenho!