terça-feira, 11 de setembro de 2007

Back in black

Bem, pessoal, após uma breve ausência, estou aqui novamente para alimentá-los com poesia claudicante. Meu tempo para escrever a dissertação de mestrado está se esgotando e, apesar de pensar e ler sobre poesia 24h por dia , estou sem muito tempo e disposição para escrevê-la. Entretanto, há novidades. Vou tentar manter aqui a política de postar um poeminha "achado" (quer dizer: poemas velhos que eu havia desconsiderado/esquecido e que hoje reavaliei e acho que têm condição de serem levados a público - mesmo que seja um pequeno público, hehe) e um poema mais novo, mais elaborado e de acordo com o que estou pretendendo fazer atualmente.

O primeiro deles, escrito quando eu dava meus primeiros passos nessa arte complicada (e ainda não saí deles), está carregada de ingenuidades, mas conserva uma coisa que sempre vai estar presente no que escrevo, ou seja, na idéia que tenho do que seja a realidade: a noção de que as coisas abstratas estão margeando tudo o que entendemos como importantes, e que essas representações são o que mais próximo podemos ter de algo como uma espécie de divindade ou lógica cósmica. Lá vai:

Tudo

O céu é preto.

está.

sob que perspectiva?

é um desnovelo.

desencargo único da consciência

aonde posso planar

fingindo que as barreiras impostas ao meu pensamento são invisíveis.

O ser é um ente que fuma

e se desfaz em névoa.

O céu é o vácuo

por onde podemos nos tornar tudo.


Este segundo poema tem um valor especial. Foi o último que escrevi e faz uma reflexão (como se fosse uma espécie de "ensaio poético") sobre a paternidade a partir de uma pessoa que a desconhece. Tem a ver com meu próprio pai, pai da antencedência.

Pater

Paternidade é o pai da antecedência.

Faço uma viagem ao mundo dos micróbios:

Há um descolar-se meio tonto, meio sem saber.

Um filho deve nascer de um descolar casual.

Sofre de um trancamento masculino.

Passa por um apartamento genético.

Como num timbre matemático, o filho (filho do pai, não da mãe) vai

[ziguezagueando as coisas, quase pronto para se encadear, se dividir [novamente.

Sem umbilicalidade, o filho acena para o pai, de longe.

Encadeia-se como se fosse um efeito do cosmos, uma afeição automática

[das coisas por elas mesmas.

Compaixão por substancialidade.

O filho desenrola-se, ainda um apêndice, no matagal cheio de pulgas do [mundo.

O pai estatifica-se em seu ato primordial de preceder.

Antecede, e isso basta. Isso cria e delineia o próprio ato parental.

Pai, de uma importância cronológica, sintática.

Sem austeridade, o pai se aloja em sua posição de anterioridade, que vai

[se desintegrando.

O mundo se abre, vetusto.

O pai se torna topo da cadeia.

Atinge o céu, de certa forma; ascende.

Há um momento, então, em que o filho escreve a liturgia das coisas.

O pai se torna lenda.

Vale-se de seu princípio como princípio.

O filho é obrigado a mergulhar num universo passado

e costurar uma partitura de mundo.

Procura um aceno cíclico,

adentra nas pupilas do pai,

e recolhe, em assombro mitológico, os signos de uma existência em [origem.

O que é remoto cicatriza a ambigüidade do que é segundo, prole.

Completo, re-significado, o filho então também se torna pai.

E passa também a legar.