O primeiro deles, escrito quando eu dava meus primeiros passos nessa arte complicada (e ainda não saí deles), está carregada de ingenuidades, mas conserva uma coisa que sempre vai estar presente no que escrevo, ou seja, na idéia que tenho do que seja a realidade: a noção de que as coisas abstratas estão margeando tudo o que entendemos como importantes, e que essas representações são o que mais próximo podemos ter de algo como uma espécie de divindade ou lógica cósmica. Lá vai:
Tudo
está.
sob que perspectiva?
é um desnovelo.
desencargo único da consciência
aonde posso planar
fingindo que as barreiras impostas ao meu pensamento são invisíveis.
O ser é um ente que fuma
e se desfaz em névoa.
O céu é o vácuo
por onde podemos nos tornar tudo.
Este segundo poema tem um valor especial. Foi o último que escrevi e faz uma reflexão (como se fosse uma espécie de "ensaio poético") sobre a paternidade a partir de uma pessoa que a desconhece. Tem a ver com meu próprio pai, pai da antencedência.
Pater
Paternidade é o pai da antecedência.
Faço uma viagem ao mundo dos micróbios:
Há um descolar-se meio tonto, meio sem saber.
Um filho deve nascer de um descolar casual.
Sofre de um trancamento masculino.
Passa por um apartamento genético.
Como num timbre matemático, o filho (filho do pai, não da mãe) vai
[ziguezagueando as coisas, quase pronto para se encadear, se dividir [novamente.
Sem umbilicalidade, o filho acena para o pai, de longe.
Encadeia-se como se fosse um efeito do cosmos, uma afeição automática
[das coisas por elas mesmas.
Compaixão por substancialidade.
O filho desenrola-se, ainda um apêndice, no matagal cheio de pulgas do [mundo.
O pai estatifica-se em seu ato primordial de preceder.
Antecede, e isso basta. Isso cria e delineia o próprio ato parental.
Pai, de uma importância cronológica, sintática.
Sem austeridade, o pai se aloja em sua posição de anterioridade, que vai
[se desintegrando.
O mundo se abre, vetusto.
O pai se torna topo da cadeia.
Atinge o céu, de certa forma; ascende.
Há um momento, então, em que o filho escreve a liturgia das coisas.
O pai se torna lenda.
Vale-se de seu princípio como princípio.
O filho é obrigado a mergulhar num universo passado
e costurar uma partitura de mundo.
Procura um aceno cíclico,
adentra nas pupilas do pai,
e recolhe, em assombro mitológico, os signos de uma existência em [origem.
O que é remoto cicatriza a ambigüidade do que é segundo, prole.
Completo, re-significado, o filho então também se torna pai.
E passa também a legar.
3 comentários:
chega de pseudônimos feiques, agora digo eu mesmo,
teu blog tá arrebentano,
esse blog tá paradaço! que bom que vc deu um sopro de vida nele!
Ela é do tempo do Bob
lá do pina de copacabana
De tarde na praia
o que ela gosta é de fumar
e bejar seu noivo
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