segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Poemas irmãos

Escrevi dois poemas irmãos recentemente. Poemas baseados no verbo, escavadores de palavras. Postarei o "Achar" aqui e o "Torcer" no Nexo Grupal. Divirtam-se.

Achar

Acha-se aquilo que foi de um outro.
Outro que não lhe queria mais o objeto.
Objeto que agora se encontra suspenso.
Sem sua fagulha vital.
Objeto que não existe novamente
até que alguém o ache,
cercado por seu nada nebuloso,
por seu novelo desintegrado.
O objeto adormece, suicida-se, para uma cidade de vacuidade.
Desprende-se, porque a vida no invisível
não é monótona como a vida da vassalagem.
Aquilo que se perde procura isentar-se de seus posseiros.
Mas há aqueles que o acham
solteiro
pronto para uma nova simbiose,
virgem de comunhões rasuradas,
mas ainda viciado no destino da adesão.
Porque se se livra de uma porosa relação
quer também destronar um novo suserano,
a solidão.

8 comentários:

Anônimo disse...

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Ciro disse...

hehehehe. adoro esse poema do antônio cícero e não nego que esse "achar" teve uma certa inspiração nele....

Bic disse...

É difícil para mim falar dentro de uma visão crítico literária, é um desafio positivo.

Este seu poema ,por sinal muito belo, mostra diversos olhares sobre o ser humano.

Ele constrói imagens, reflexões, nos mostra um pouquinho da sua alma e de suas visões.

Grande Ciro!!!

Unknown disse...

vim parar aqui através do potbluesblogspot. Gostei bastante. Ótima poesia!

Anita

Anônimo disse...

"Desprende-se, porque a vida no invisível
não é monótona como a vida da vassalagem." O objeto que peregrina, entre seres e coisas, pertence. Ele não É, a não ser que seja por outro, de outro, em outro ser.
O Ser que tinha não tem mais aquele objeto, mas tem outros, e seres...

Léo Menezes

Ciro disse...

É isso aí mesmo Leo. Captou a mensagem!

Anônimo disse...

uérisbob?

Anônimo disse...

será esse poema o trecho desconhecido de uma história conhecida? muito bonito.