segunda-feira, 19 de março de 2007

Estive pensando sobre como criar um primeiro post para um blog e me deparei com essas incríveis dificuldades de apresentação de qualquer material. Pensei em colar algumas definições de poesia a partir de alguns pensadores ou algo que o valha, mas achei que isso encaretaria demais a proposta desse blog, que é basicamente encontrar o ponto ótimo da "pretensão na despretensão". Ou seja, já que esses poemas são mesmo coisa séria e significam algo para mim, que eles resvalem em alguma fortuna crítica, que passeiem pelos olhos de leitores interessantes, que se tornem mais interessantes ainda por causa de seus leitores. Ao mesmo tempo, há sempre um coeficiente de humor sacana inserido num sujeito que escreve poesia com elementos pop - e o bom humor tem de ser uma tônica aqui, senão certamente isso não daria certo. A poesia, hoje em dia, por mais séria que seja, não é, definitivamente, algo sério.

Esse blog, portanto, tem o interesse naquelas coisas dúbias que se inscrevem de maneira paradoxal em cada mínimo elemento dessa realidade estranha. Meu sonho sempre foi poder desaparecer algum dia - e voltar (um delírio meio cristão?). Exercer propriamente uma dicotomia. Ser sujeito e objeto, sombra e luz, enfim, coisas que se expressem pelo seu contrário. Eu poderia desenvolver isso aqui até chegar a uns delírios cósmico-alucinógenos (afinal, tem sempre aquela história de se ser um e se ser todo ao mesmo tempo, de uma maneira que materializa a idéia do paradoxo e torna-a tangível). Talvez a poesia seja a respeito disso mesmo: calcular o paradoxo. Não é uma missão fácil, nem para gente muito normal. Tirando Jesus, nunca se soube de alguém que tivesse efetivamente desaparecido - e aparecido novamente. Já é algum estímulo, não? Estamos aí. Vamos botar o Bob para pensar.

Enjoy the poetry.

6 comentários:

Anônimo disse...

Desaparecer e voltar? Ai, acho que vou rever Ordet pela milésima vez.

Léo Menezes disse...

Vamos transformar este espaço num pequeno átomo que se parta (como os deliciosos cogumelos japoneses, made in Nagasaki and Hiroshima) e quem sabe, numa típica reação em cadeia, causar espasmos silenciosos na pele da terra, para que poetas de outras paragens possam encostar as mãos no chão de suas casas e sentir o universo encolher perto do olho do homem, para depois expandir-se em devaneio e destruição - de todas as coisas que impedem o poema de nascer livre em seu habitat natural...

Anônimo disse...

que venham
os sons
e os sins

- os sinos não,
pois lembram as igrejas
que lembram as doutrinas -

sobretudos os nãos
todos os talvezes

as liberdades dos modernos
mais a ultra passagem
dos fetiches desfetichizadores

isso de se viver na cidade
com tesão

ritmo i forma

menos o excesso

música

e espreita

Ciro disse...

Legal, Mateus. É claro que o espaço desse blog é também para se postar e comentar poemas dos outros. Quem quiser postar por aqui, sinta-se livre. E vamos seguindo...

Léo Menezes disse...

pera lá, tenho que dizer que o poema não nasceu, foi nascido, ou melhor, que a dor do parto não se deu quando a forma saiu, mas quando alguém leu... O pai do poema é quem vive o poema antes de concebê-lo ou que o acha belo sem ter vivido nada daquilo?

Ciro disse...

Bem, estava lendo algo sobre Amédée Ayfre e ele, falando sobre cinema, dizia que a experiência do cinema era o filme, o público e tudo o que os circundava. Quer dizer: a operação toda resultava no filme. E ele só era filme enquanto estava sendo exibido. O filme seria a experiência e todos os seus alicerces. O homem, e o real, a terra, o palpável. Isso é um pouco de fenomenologia aplicada básica.

Bem, talvez com a poesia seja a mesma coisa. O autor do poema seria o leitor e o escrivinhador "ao mesmo tempo", por intermédio do poema e seus contextos, todos autores, todos num processo perene de fagocitose...